22 de mai. de 2011

Carta

Há muito tempo, sim, não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelheci. Olha, em relevo,
estes sinais em mim, não das carícias

(tão leves) que fazias no meu rosto:
são golpes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu caminho, que ao sol-posto
perde a sabedoria das crianças.

A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias:
"Deus te abençoe", e a noite abria em sonho.


É quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho.


Carlos Drummond de Andrade



4 comentários:

  1. Com mais de 1000 visitas! Merece um belo poema de Carlos Drummond de Andrade.
    parabéns minha linda criadora desse blog.
    Beijos.

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  2. Parabéns a nós!!!
    Beijos
    Cintia

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  3. Lendo seu Drummond, me lembrei de Clarice...Sei que é fã fervorosa da escritora e tem maravilhosos trechos. Vamos criar uma tag de Clarice?

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  4. Revejo quem? Revejo a noite acumulada dos meus dias.
    Bela postagem desse imortal escritor.
    Parabéns!
    Amanda Caldas

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