Em nossa sociedade de consumo, com seus infindáveis apelos aquisitivos, possessivos, o Ter adquiriu uma importância desmedida e desproporcional.
Não se deve todavia, imputar toda a culpa dessa aberração à sociedade, que nada mais é do que o somatório das mentalidades individuais. É claro que para conseguir alguma qualidade vida, é necessário ter um mínimo de posses, tais como moradia, alimentos vestuários, e alguma garantia de suprimento dessas necessidades básicas.
O ter em excesso e principalmente o apego aos objetos de posse, obstrui o ser e causa infelicidade.
O ter pode causar prazer momentanio, porém, esse prazer logo se transforma em tédio, saturação e embotamento.
No final, o possuído se transforma em possuidor, e o homem, escravo daquilo que possui.
O ser não pode se manifestar quando obstruído. A ausência do autocontato de conexão com o ser essencial é uma das causas mais comuns de alienação e angústia. Os adeptos da ¨teologia da prosperidade¨se apegam a texto bíblico, distorcendo seu significado de acordo com seus interesses: Jesus disse de fato: ¨Buscai primeiro o Reino de Deus e tudo o mais lhe será dado por acréscimo¨.
Alguns pseudoteólogos chegam a adulterar os ensinamentos básicos da sua religião, para conquistar adeptos, oferecendo algo que nem Jesus prometeu.
A ânsia de ter é tão forte que até mesmo nossos sentimentos subjetivos deixam de ser uma ação da alma para se tornarem uma posse. Quando sentimos algo, costumamos dizer: ¨temos amor¨, ou ¨temos ódio¨. Ou alguém diz ¨tenho ciúme¨em vez de dizer ¨sinto ciúme¨. Dizem ainda ¨tenho sono¨em vez de dizer ¨sinto sono¨!
Embora possam parecer apenas formas de expressão, demonstram até que ponto o ter se enraizou em nossas vidas, obstruindo o ser.
Sob o ponto de vista da sociedade consumista e aquisitiva, alguém que nada tem não é ninguém. As pessoas são avaliadas pelo que têm e não apelo que são. Se para ser alguém, uma pessoa necessita ter algo, ela se torna capaz de fazer qualquer coisa lícita ou ilícita, caso contrário, estará condenada a ser ninguém.
E, sendo ninguém, nada tem a perder, a própria vida perde o significado para essa criatura.
E quando a própria vida perde o significado, a vida alheia se torna ainda mais insignificante.
Dai se pode perceber a causa profunda da violência no mundo moderno, que não terá fim enquanto for alimentada de forma indireta pelos valores da própria sociedade.
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