4 de mai. de 2011

Fiapos de memórias

Se fui pobre não me lembro! Mas lembro que já cai de caminhão de mudanças. E isso é coisa de pobre. Ricos contratam empresas, delegam tarefas, colocam os filhos confortavelmente em seus carros, enquanto funcionários embalam taças de cristais, xícaras de porcelanas e telas de pintores renomados.

E nós? Ah... Como era engraçado. Na véspera arrumávamos caixas de papelão e muitos jornais, embalávamos os copos de vidros as xícaras
de louças e portas retratos com fotos da família, enquanto todos estavam ocupados, furtivamente fui ao portão do vizinho, despedir-me do menino da lambreta, prometendo-lhe escrever.

Eufóricos com o prenúncio da aventura íamos dormir. Com a claridade que precede o nascer do sol, meu pai nós acordavam, tomávamos, café preto com bolinhos de fubá. Lá íamos nós! Minha mãe se ajeitava na cabine com os três filhos menores, junto ao motorista, e meu pai na carroceria com outros seis filhos incluindo eu.

Partíamos rumo ao destino desconhecido. A mesa da cozinha mais parecia uma espécie de barraca, o colchão em baixo amortecia os solavancos, com a lona por cima e o resto das tralhas espalhadas por todos os lados, uma pequena abertura na lona, nos servia de janela, que era disputada por todos.

Exceto por uma irmã, que com mania de grandeza, não fazia questão de ficar na janela improvisada, morria de vergonha que alguém a visse. ah... Como eu me divertia! Acenava a todos, e foi assim que eu cai do caminhão. Foi um susto danado, achei que ia ficar para trás. A gritaria foi geral dentro do caminhão, mas foi alguém da calçada, quem conseguiu alertar o motorista.

Reboliço total, joelhos e cotovelos ralados, broncas risos e beijos, para compensar tudo isso, uma parada na beira da estrada, para um sortido, “prato feito". A irmã com mania de grandeza, fingia que aquela familia não era a dela...
Seguíamos a nossa viagem, que hoje sei que era para um lugar no litoral do Paraná, onde meu pai dizia: O mar de lá tem muitos peixes e nada vai nos faltar.







Autora: Leila Mustafa Cury

9 comentários:

  1. Me emocionei e consegui ver todas as imagens.

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  2. E para quem nos lê, seriam imagens reais ou conto?
    Beijo

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  3. Ô querida !!! Que história mais linda, emocionante e real !!! Belo trecho de uma história de vida que deve ter sido difícil e ao mesmo tempo marcante ! Visualizei todas as situações... incrível isso ! Entrei dentro da história, quase senti a queda... ai ! Parabéns !! Tem mais ? Beijos e sucesso ! Bell

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  4. Amei! Me emocionei! Que mais? Um livro, que tal? Se públicar eu quero ler, estou louco pra saber o final dessa historia tão louca e tão bela. Você deve ser uma pessoa incrível! Alguém que já caiu de caminhão... Rs...Deu a volta por cima e ainda encontra poesia bem humorada na forma de relatar os momentos difíceis que passou.

    Beijos. Irineu Dias

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  5. Nem precisa, mas quer saber? Emoldura porque é uma belíssima foto esse texto. Parabéns, mesmo. Abço traveiz rs.

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  6. No antagonismo dos seus versos, é exposta toda uma verdade.... Adorei a forma e a apresentação... uma bela Crônica, sem nenhuma dúvida. Parabéns... Beijos e, muita poesia.

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  7. Bem que eu me lembro era Antonina no litoral do paraná...Eu não cai do caminhão pois era uma das menores e tinha a mordomia de ir na cabine com a mamãe,Mas adorava os pratos feitos.Ah eu sinto tanta raiva de min hoje,pois muitas vezes mandei de volta o filé pra passar mais...Pois é Leila sua crônica me faz refletir,como posso reclamar?Leila vc é demais tenho muito orgulho da filha do pescador...escreve linda, vc tem muito talento,e sempre escreve as verdades.bjs

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  8. Lembrome uma vez, quando ti me contou essa história, me emocionei quando á li, não existe coisa mais fantástica no mundo, do que lembranças da infância, parabéns amiga, continue sempre a nos emocionar com as suas belas palavras... Beijoss
    Jussara Pereira.

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  9. JRoberto Jun23/05/2011, 23:10

    Oi,Leila! - Dei uma passadinha por aqui e aproveitei para fazer-te uma visitinha então,reli Fiapos de Memórias. Olha, estou com saudade e certamente não só eu como muitos dos seus leitores.

    Beijos, Poéticos,

    JRoberto Jun

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